41 por Maria Badulaques - SEMANA 40
Continuando o papo com Paola Blanton...
"Por exemplo, “East Coast Tribal” tem muito vocabulário hip-hop como isolamentos, locking e popping. É importante saber de ONDE veio isso, o por que, e COMO isso funciona em termos da musica escolhida.
Tem que dominar os passos hip-hop , assim como os passos tribais. Temos que ter consciência escolhendo as nossas musicas e passos, para harmonizar os estilos presentes na musica com a nossa INTENÇÃO da dança.
O que queremos dizer com nossa dança, qual a imagem, qual a mensagem? Qual o nível de casamento entre meus movimentos e a musica?
Hoje em dia, por exemplo, vejo muitas apresentações de “Fusão Tribal” que tentam trabalhar em cima de musica Balkan, mas com todo movimento vindo da parte superior do corpo ou em cima de formações de ATS. Isso sai bem esquisito, pois a musicalidade Balkan é nos pés - isso é indiscutível, e bem básico para alguém com mínima curiosidade sobre a dança atual dos Balkans.
Para uma fusão ser boa, tem que ter um bom equilíbrio entre os passos relativos as influencias na musica. Então “fusão Balkan” sem nenhum passo Balkan, para mim, é muito vazio, como a “fusão Balkan” que apresenta nenhum elemento Balkan no figurino – já vi cada coisa: gente dançando musica Balkan com movimentos ATS com figurino de Samba, cheio de penas e miçangas.
Isso não e fusão – isso, nas palavras da grande Tia Rocky, e “confusão”.
Mas vejo isso a toda parte, e isso me mostra por onde fica minha missão como educadora nas artes. Temos que educar o publico através de nossas danças.
Eu já comentei muito sobre isso nas revistas e blogues que sou contribuidora. Não basta apenas “gostar” de uma musica e enfiar qualquer movimento, misturando elementos que não tem nada a ver um com outro, colar etiqueta “fusão” e pronto. Se alguém se sente atraído por uma musica, tem que correr atrás – não tem corta caminhos. Tem que estudar, descobrir, e entender antes de fazer fusão.
Eu acho que, com a musica evoluindo do jeito que esta hoje em dia, temos grande oportunidade de acompanhar e criar no mundo das danças.
Acho que a comunidade Tribal tem bastante oportunidades para crescer e evoluir, para dominar suas técnicas e também “think outside the box”.
Tem muito material tradicional e moderno para estudar e tirar novas inspirações.
O gênio fundamental do estilo Tribal – as formações e a metodologia de improviso em grupo, merecem ser estudados, dominados, e também usados como estímulos para novas expressões. Afinal das contas, Tribal é uma forma de dança moderna, que evoluiu com a intenção de apresentar passos de varias culturas tradicionais num formato fácil de dominar.
Evolução é sinônimo de adaptação – Jamila, Masha, Carolena e outras adaptaram passos que aprenderam do tradicional para um contexto moderno.
A marca da excelência é na consciência que consegue fazer a ponte fundamental entre as raízes da tradição e os frutos de criação." (Paola)
Ponderando aqui, com meus botões tribais...
Vejo Anasma nomenclar seu trabalho de Fusão, e ao vê-la dançando repertório de passos, música e coreografia seguem em perfeita harmonia, de outro lado observo tudo ser chamado de Tribal Fusion no Brasil, muito embora minha observação me remeta a outra percepção.
Fico confusa e isto não deve ser um sentimento exclusivo, imagina a cabeça de quem tá iniciando, lá no comecinho, seus estudos? Daí, alguém deve estar se perguntando que diferença tem a nomenclatura, eu quero é dançar... bem, se o bailarino/dançarino não entende a origem da sua fusão, não historia e ambienta sua dança, estudar todos os lados incluindo a sintonia entre dança+música+figurino é de lei pra não caímos na (Con)fusão Tribal.
Afinal, algumas danças nos remetem aquele período da história que visam retratar, ou aquele cultura que foi chamada a comparecer ao palco. Penso que se o dançarino não sabe dizer o que está dançando esta nuvem de incertezas transparecerá em algum momento, saber o que se quer expressar é fundamental, pq a dança é um recado da alma.
Agora me recordo de algumas conversas entre a Natiii, o Marcelo Justino e eu, além do estudo de técnica, trocamos muitas ideias sobre a dança-história-expressão-arte.
Num desses "brainstorming" concluímos, a pessoa pega qualquer coisa, veste qualquer coisa e por via de consequência acaba dançando qualquer coisa, mas o trabalho da dança é algo muito mais profundo, fazer fusão demanda um conhecimento e domínio, não mais de uma técnica, e sim, no mínimo de duas, respeitando todas culturas.
Durante as aulas com o Raphael, Odissi, o que mais se ouvia era: "isto é sagrado pra a cultura indiana, não se fusiona".
Esta percepção é fundamental na hora de criar sua fusão e deixa-la livre de confusões. E como isso se adquire? Não é vendo vídeos no you tube, isso somente é absorvido com muito investimento em ESTUDO.
Super xeros e vamo que vamo, amanhã tem mais.
Ah pessoal, completando a conversa, de ontem, sobre entre outros assuntos, Isadora Duncan, recebi da Paola Blanton e Carol Louro esse podcast incrível que ouvi, por baixo umas 20x, para ver se as células absorvem, desfrutem e reflitam:
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