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19 de outubro de 2014

179 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

179 por Carine Würch - SEMANA 20


Desde quinta-feira, quando postamos a opinião de Yasmela sobre o ATS (leia aqui), tive sentimentos diversos em relação ao tema.

Entendo o que ela quer dizer em relação a Dança Oriental, como entendo o ponto de vista da minha amiga Maria, que tem mais experiência no ATS que eu.

Meu primeiro contato real com o ATS e com a Maria, rs, foi em maio deste ano, no curso da Kristine Adams. Com toda certeza fiquei encanta com tudo que aprendi, e sempre quero mais! Pois acho que quanto mais sabemos, sobre diferentes assuntos, mais soma para nosso conhecimento, influindo em nossa dança.

Imagino o que foi a década de 70 em São Francisco... todos aqueles clubes, esperando e contratando bailarinas, esperando delas uma apresentação-espetáculo, esperando entretenimento, diversão. Yasmela e todas as filhas do Bal Anat vivenciaram este momento, tão diferente de nós, ou de mim, em especial. A própria experiência de palco do Bal Anat é muito diferente das apresentações que temos hoje. E com certeza é diferente do momento em 1987, quando o ATS iniciou oficialmente.

Entendo quando Yasmela diz que o ATS é seu público em si, e em termos concordo. Não há contato visual direto com o público, e o olhar deve ser "longínquo" e não expressar muito da emoção  individual. (Corrijam-me se estiver falando besteira, mas foi isto que percebi do workshop). O grupo, apesar de estar se apresentando, é uma formação que se completa, que se entende, que se conecta sem palavras, e talvez o público fique de fora, "assistindo de cadeira." Em especial quem não tem a vivência com o ATS! As roupas impressionam, a união, a conexão, tudo é muito muito lindo! Nunca vi uma apresentação fora do vídeo, ou do palco, então não sei o que dizer sobre as apresentações em restaurantes, eventos, etc...

Entendo o que Yasmela diz sobre a conexão da bailarina de Dança Oriental com a público. Há olhares. Há o charminho. Há interação. Há o convite para dividir esta paixão, como ela mesmo fala.

Nascida em uma outra época, e vivendo em outra cultura, para mim foi bastante difícil iniciar na Dança do Ventre (indicação da terapeuta), tive muita dificuldade em lidar com este lado sensual, pois não estava acostumada, com este lado feminino, com estes movimentos que mexem com o corpo e a cabeça! Quando vi o Tribal Fusion, via Rachel Brice, me apaixonei pelo figurino diferente, mas também, por não parecer que a bailarina estava tentando seduzir o público.

Há um outro tipo de conexão com a platéia. De admiração, de inspiração. O Fusion já está caminhando para uma nova era, acredito eu, que vai conseguir balancear o sexy do "ritualístico em si", que Yasmela imagina ter se tornado o ATS

Creio que o Fusion está permitindo trazer de volta esta questão do sensual para nossa dança, nas roupas, nas músicas, e na interação das bailarinas. Não há um padrão fechado de dress-code.

Um não diminui em NADA o outro. E gostei muito do que ela falou na última frase. Que talvez o ATS não esteja tentando ser Dança Oriental / Dança do Ventre, talvez a proposta seja exatamente esta, e não há mal algum.

Entendermos os estilos, ouvir as opiniões e respeitá-las, é a busca incansável da sociedade. Ver o outro lado, o outro ponto de vista, não a partir da minha, e da minha experiência... tentei ver com os olhos de Yasmela, de quem vivenciou coisas completamente distintas da minha, e olhei através dos olhos de Carolena, que talvez estivesse de saco cheio do bellydance cabaret...




Quem está certo? Quem pode dizer?

Creio que devemos buscar e fazer aquilo que nos traz maior alegria, que traz felicidade e nos dá vontade de dançar!

O melhor é experimentarmos, para poder dizer, quero ir por este caminho... ou por aquele... para cada bailarina há uma caminho específico e só cada uma de nós vai poder encontrá-lo, dentro de si...



Deixo para vocês algumas fotos de Yasmela, bem como este texto da minha professora Daiane Ribeiro, que tem me ensinado há muitos anos, e eu me sinto como alguém que passou a se conhecer mais, entender sua feminilidade, que está aprendendo a lidar com a sensualidade dentro da dança sem parecer vulgar, grosseira, ou simplesmente de mau gosto. Este lado feminino é lindo e maravilhoso, e nada melhor que o auto-conhecimento para aceitarmos que isto é inerente a nós, e que não precisamos usar isto como "arma de dedução para achar marido", nem para tirarmos vantagem de algo por causa disto.

Estamos ainda no caminho para vivermos nossa sexualidade plena, sem medo, vergonhas, castração social, sem o machismo nosso de cada dia. E sermos o que somos, mulheres, femininas, e ao meu ver, sensuais por natureza.

Deixo vocês com o texto:


Daiane Ribeiro - 05/08/2007 - Pense sobre isso


Sobre a dança e sua importância para as mulheres

Muita gente ainda hoje fica de nariz torcido quando ouvem algo sobre danças femininas ou dança do ventre. Com razão! Afinal uma arte conhecida tão superficialmente aqui no Brasil teve por parte das próprias divulgadoras a pior das impressões. Uma dança de caráter mundano e exibicionista, sem o mínimo talento ou propósito artístico real.



Apesar de estar em minoria, cá tento eu esclarecer outra visão que precisamos conhecer dentro desse mundo fascinante que envolve a dança.


Para quem assiste, a primeira impressão é a que fica, pelo menos até um próximo contato... geralmente o que assistimos em primeira mão possui um nível duvidoso. Você pode se sentir privilegiado se já assistiu alguma apresentação de dv que realmente tenha lhe transmitido sensações positivas. 

Como platéia, ás vezes o que sinto é tristeza. Como bailarina, entendo as diversas fases do aprendizado e procuro não ser tão trágica.


Essa dança milenar é sagrada e merece tanto respeito quanto um flamenco!

O problema é que ela, sem orientação, não possui limitações morais básicas e acaba sendo utilizada apenas para divertimento e super inflação de egos. Há muita coisa por trás de um trabalho com danças que vc nem imagina.

Nas primeiras aulas, estamos extremamente preocupadas com o corpo e com a falta de flexibilidade. Achamos que nunca alcançaremos com exatidão algum movimento. Com um pouco mais de persistência, parece que o corpo começa a se acostumar com uma nova linguagem, nascendo os primeiros movimentos com mais forma.

Acontece uma breve estima pelo que se consegue fazer, aumentando o interesse. O aprendizado continua e os progressos físicos e psicológicos também. A auto estima se eleva com a capacidade de dançar.

Apesar do pouco tempo de aprendizado, muitas vezes a vontade natural em relação à essa descoberta é mostrar ao mundo o que alcançamos, como a criança quando ganha um brinquedo bonito. É bem natural até certo ponto.

O ponto em questão é o apelo na utilização da sensualidade, a despreocupação total com a música e a arte a qual nos propusemos a demonstrar.


A Dança Oriental é rica, é espiritual, também é divertida e sensual por si só, sem necessidade de impor ainda mais. Todos os movimentos básicos possuem uma simbologia ligada ao universo e foram feitos para a mulher genericamente, trabalhando suas formas e músculos como nenhuma outra dança.

Dança Oriental Egipcia reverencia o feminino, é mais Afrodite, mais maternal, apaixonada, cheia de delicadezas ou alegrias, ilustrando composições musicais orquestradas clássicas e dramáticas, ou revelando habilidade rítmica da bailarina ao som da percussão.



A Dança Tribal é intensa, forte, exata, definida, desenhada, mistura etnias, sons de raíz, indiana, africana, cigana, egípcia. É mais Ártemis, guerreira, ligada totalmente com a Terra, é seu choro e sua fúria, e também seu perdão para nossa ignorância.

Em ambas podemos descobrir uma consciência nova, uma verdade que há em cada mulher. O respeito próprio e o equilíbrio das emoções ou a espiritualidade adormecida."

18 de outubro de 2014

180 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

180 por Maria Carvalho - SEMANA 20

Então, sobreviveu as perturbadoras ponderações de Yasmela?
Sim? Buenas, então...sabe o que ela disse sobre o ATS não se conectar com a plateia ficou na minha mente, pq comigo ocorre o contrário.

Ontem fui a um work de flamenco e cada vez mais observo como há claras influências desta arte no ATS, a madrilenha nos fez tirar o sapato, sentir o solo, pegar a ginga e então disse: "Isto é Flamenco, você pode não ter uma técnica apurada, mas se tem isso, você é flamenca."

Parafraseando, o ATS pode não ter a exata cara das danças folclóricas do oriente, pode não ter as pernocas de fora, pode não invocar passos e mais passos do baixo ventre, mas quando nos agregamos em uma roda e os snujs começam a tilintar nos ouvidos, isso é uma tribo. Lilililililili - iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Continuaremos trazendo as visões que destoam, as críticas, creio que nos faz pensar e crescer enquanto estudiosos do ATS. Muitas perguntas para tia Carolena, kkkkkkkk... afinal não basta aprender os passos tem que entender a razão de tudo.

Xeros e vamo que vamo.

17 de outubro de 2014

181 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

181 por Maria Carvalho - SEMANA 20

FCBD
Viram que Yasmela tem um visão peculiar sobre o ATS, certo?! Confesso que questiono a razão de Suhaila não ter dado continuidade ao Tribal, nos moldes que Jamila iniciou, vejo que a coisa girou para o bellydance e a dissecação das técnicas já encaminhadas, pois bem... veio Masha, Carolena e tudo que conhecemos e dançamos e nomenclamos de Estilo Tribal Americano.

Particularmente estou ansiosa pelo curso com Carolena, planejo adaptar o dress-code para algo muito brejeiro (chiita chiiita chiiita). Quando danço com música nacional é natural e instintivo, todos sentidos são despertados, acredito que deveríamos usar no ATS os ritmos nacionais, o artesanato local, tão rico em nosso país e dar identidade, a nossa. Não seriam essas as críticas de Yasmela?!

Outro dia, comentava com um amigo, alias escrevi sobre isso, quando damos um nome a nossa dança, essa necessidade de explicar minunciosamente, nem sempre casa com harmonia, então chamou de Tribal, os puristas já ficam em alerta. A Dança Tribal demanda espírito de tribo, dãããã... vejo isto no ATS, em que pese as críticas, admiro os combos de movimentos e sua organicidade, mas falamos de um estilo ultra novo, o neo-novo (ou seja o novo do novo), a coisa ainda está sendo construída, tá no ar, tá fluindo e possivelmente se reinvente. Respeitando as regras do jogo se pode dar uma cara muito pessoal ao ATS, começando com a música... penso que o chamado vem do toque musical e vivemos num país rico-pra-chuchu, abusemos disto.

Tamarind Tribal
O lance da sensualidade duramente questionado no post de ontem é um ponto nodal, não vejo a coisa pelo angulo da ex-aluna de Jamila, se de um lado negar nosso feminino é um problema, colocar numa bandeja e ofertar é o revez. Tem que se procurar o liame e não ultrapassar a linha vermelha do exagero. 

Se pode ser sensual, mesmo quando o foco não é este...e o feminino (nossa essência), putz subir num palco pra dançar, ir as aulas...se reunir com a Tribo já não é um exercício natural?

Agora, dizer que não há conexão com a plateia? Qual é!!! Quando aqueles snujs tocam me sinto convidada a acompanhar a roda. Lilililililililili, é como escutar: se joga.

Cia Lunay
Toda crítica deve ser lida e estudada, afinal penso que o ATS é um estilo em construção. Nada mais bonito que ver as variações (Tribal Fusion) carregadas dos mais belos passos de ATS e nossa brasilidade... (sabem do que falo né, Tribal Brasil :) ... mas é isso, simbora estudar os combos de tia Carolena, há muita beleza no Tribal por ela construído. 


Vamo que vamo.
Xeros

16 de outubro de 2014

182 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

182 por Maria Carvalho - SEMANA 20

Jogando pimenta no feijão, as impressões de Yasmela sobre o ATS!

Penso ser fundamental publicarmos opiniões distintas, sou uma apaixonada pelo ATS, tanto o in natura, quanto as fusões que se originam a partir de seus movimentos e possibilidade infinitas, contudo há quem pense diferente, vejamos a ótica de Yasmela:

"No início dos anos 80, um gênero totalmente novo, American Tribal Style ou ATS, nasceu. Este estilo é pura fantasia. Ele se baseia apenas marginalmente nos movimentos autênticos e defende uma visão americana do que é exótico. Infelizmente, cria sua própria mitologia sobre suas origens e, inadvertidamente, perpetua o imperialismo cultural, do qual pensava erroneamente, que estávamos prestes a emergir. No entanto, essa mudança na dança não é diferente das mudanças que ocorreram nos países de sua origem. Baseado em movimentos selecionados, o ATS combina dança oriental, flamenco, dança indiana e um pouco do estilo moderno de Isadora Duncan e Ruth St. Denis. Os primeiros três destes estilos, são conseqüências das migrações e expansões islâmicas, então as conexões são lógicas. A inserção da Dança do Oriente Médio, com os dois últimos (estilos modernos) é exclusivamente ocidental. Voltada para uma experiência de grupo, ele se baseia em sinais visuais e transições, na tentativa de criar uma linguagem comum de movimento repetitivo.
A ênfase é removida da dançarina/indivíduo e sua interpretação da música é deslocada para uma forma mais orgânica, quase espiritual, refletindo de forma indireta e um tanto surpreendente, as raízes da dança na cultura folclórica de aldeia.
ATS é frequentemente dançada com ritmos de um tom só (monótonos), carentes do aumento melódico, tão típico da música clássica e popular do Oriente Médio. Move-se para uma versão simplificada de sua mãe. Empregando o exótico figurino "tribal", oferece um banquete visual fascinante e um estilo de performance, embora restrito, altamente interpretativa. Basta olhar para as saias volumosas, muitas vezes usadas em camadas sobre pantalonas, para concluir que o uso dessas camadas de saias é para esconder as pernas e pélvis, e é uma reminiscência das saia exageradas da era vitoriana, quando uma sociedade civilizada, evitava completamente a referência às mulheres, abaixo da cintura. No ATS toda a área inferior do corpo é processado neutro ou estritamente controlada, e nosso foco é pressionado, mais uma vez, para parte superior.

Mudanças de movimento são iniciadas por um líder e no ATS, o líder também muda, numa tentativa de criar uma forma não-competitiva, sem uma única liderança. O ATS, como nas danças folclóricas das aldeias, está focado no desejo de unidade e inclusão. Existem algumas diferenças sutis, no entanto. No ATS a é estritamente regulamentada e não está aberta a camaradagem de grupo casual, que está envolvida comemoração de diferentes gerações e gêneros, na vida da aldeia. Apesar de suas afirmações do contrário, sua própria hierarquia, gerou normas estritamente regulamentadas.
Ao contrário de dança solo do Oriente Médio, a ênfase é deslocada para longe da interpretação musical, voltando-se para um estímulo visual, experiência do grupo e exclusão da platéia. Na verdade, o ATS tornou-se o seu próprio público.
Na superfície, ATS parece responder ou satisfazer algumas das dicotomias propostas pela percepção da bailarina como objeto sexual. Mulheres ocidentais têm todos os tipos de sentimentos mistos sobre a sua sexualidade; ou seja, [quero] [necessito] ser percebida como atraente e desejável, mas não como um objeto sexual. Há uma separação definitiva entre a mente e o corpo para a mulher americana. Por alguma razão, os americanos (os ocidentais?) têm dificuldade em conciliar sexo e inteligência ou sexo e espiritualidade. Queremos que o sexo saudável despojado de suas conotações confusas, ou não queremos falar ou pensar sobre isso, e certamente não exaltá-la em público através da dança! Muita paixão nos deixa fora de controle. Do lado de fora, ATS parece cumprir nosso anseio pelo exótico, isentando-nos de certos movimentos de mau gosto ou de risco, que poderiam ser interpretados como vulgar/ sexy. Invocando um antigo culto a Deusa sem nome ou imaginária, através de sua dança sagrada, as mulheres podem se vestir com a elegância pseudo-tribal e ligar-se a uma irmandade fantasiosa, que satisfaz uma sexualidade casta. A simplicidade e repetição do footwork, o foco no figurino e encenação, isentam a participante de olhar profundamente em sua própria alma. Ela é santificada e isenta, e parte de uma grande irmandade intocável.  O movimento de Dança Tribal anula a base-terra inerente no Raqs Sharqi. Evita completamente o conflito do que pode acontecer na região entre as pernas, base da paixão e chakra da sensualidade. A dançarina não é encorajada a se conectar com o público, flertar, brincar, reproduzir ou mesmo exibir o conhecimento secreto que eu acho tão fascinante em bailarinas do Oriente Médio. Não há instigação, nem um convite excitante para participar destes mistérios. Há reverência/ respeito, mas pouco de desconforto, o tipo de desconforto ou provocação que se associa com a expressão artística. Nós vemos o mesmo quadro, com uma variedade de tipos de corpo, figurinos e cores, de novo e de novo, mas o verdadeiro artista está escondido de nós. E é improvável que seja revelada.
Acho que é interessante contemplar que a dança deu uma volta completa de uma forma estranha e não intencional. Depois ir para longe da união folclórica da aldeia na auto-expressão individual do Raqs Sharqi, o ATS parece estar empurrando dança do Oriente Médio, pelo menos nos EUA, de volta para a área segura e sem sexo, sem o real conhecimento do verdadeiro movimento popular.
Infelizmente, apesar dos laços de irmandade promovidas e tecidas nas dicas e transições do ATS, as mulheres ainda estão rotulando umas as outras, seja aberta ou sutilmente. A dançarina oriental em seu traje sedutor, por vezes berrante e reveladora ainda é a "mulher má". Ela flerta e seduz seu público, há emissão perigosa de convites para participar de sua paixão. Seus movimentos podem ser perturbadores, e em uma dançarina inexperiente, indevidamente instruído, de muito mau gosto. A dançarina tribal em seu turbante, ondulando saias é serva da deusa, uma sacerdotisa santificada que permite ao público observar sua dança, desprendida e despreocupada, com foco em comunhão com suas irmãs. Esta última atitude é a antítese dos objetivos da primeira. Fica-se a imaginar o que o povo do Oriente Médio pensam da nossa co-opção de sua dança. Vista de uma maneira antiga, mais original, se não até mais autêntica, a dança é um pouco estranha e desajeitada, cheio de movimentos sugestivos de brincadeira, que não deixam dúvidas sobre o que está sendo dito. Este não parece ser um problema para as pessoas que cresceram nas culturas que chamam isso de dança própria.

Por mais que eu aprecie e aplauda a evolução da arte e celebre a inovação, também lamento algumas mudanças de uma forma que é única e maravilhosa. Gostaria que pudéssemos encontrar algum meio-termo feliz, mas realmente a boa dança e excelente performance artística é a antítese do "meio-termo". Ocasionalmente vemos uma dançarina em um traje "étnico" ou "tribal" que move o público e se conecta com a música. Ocasionalmente vemos uma dançarina em bordados e Lycra colada, que faz mais do que isso, que realmente entende seu papel como artista e intérprete, e não um objeto de atenção. Cada vez mais, vemos menos opções e individualidade, enquanto nos colocamos em grupos e nos classificamos pelo traje. Ambos os lados buscam a ilusão de compreensão, utilizando atitude e exclusividade no lugar do verdadeiro sentimento. Talvez este seja um traço americano.

O ATS realmente não se trata de envolver a audiência, mas envolver os suas dançarinas-irmãs, e quem pode dizer se isso é certo ou errado? Certamente não eu. Ele só não é para mim, mas quando ainda dançava, ninguém teria me identificado como "cabaret" pelos padrões de hoje. Me escondo nas áreas de sombra, um limbo entre dois extremos, à espera que os estilos mudem novamente, ensinando técnica básica, no estilo tradicional, tentando inspirar, não ditar. Uma das minhas alunas, que passou para carreira profissional como bailarina e estudiosa, apelidou o estilo "etno-cabaret". Isso parece um termo tão bom quanto qualquer outro.
A dança oriental não se trata de ginástica musculares em Lycra e bordados, nem se trata de algo repetitivo, uma monotonia distante em um quadro bonito. Trata-se de interpretação artística e conexão, pedindo e convidando o observador a se relacionar com a música, movendo-os para um outro tipo de união.


O ATS pode ter tido suas raízes em alguma aldeia distante e se esforça para criar uma tribo moderna. Pode ser uma interpretação mais segura, menos perturbadora. Mas como meu amigo diria: "não é dança oriental!


E talvez não esteja tentando ser."



Putz, mandou como diriam meus amigos "merda no ventilador". 

No próximo post comentários, afinal tem que parar e pensar, meditar e escrever.

Vamos que vamo
Xeros






Texto original: 
Tradução livre - Maria Carvalho e Carine Würch

15 de outubro de 2014

183 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

183 por Carine Würch - SEMANA 20

Havia definitivamente a questão do figurino. Se você usasse o uniforme padrão: saia de três painéis, era provável que ninguém além da primeira ou segunda fila da platéia fosse capaz de ver o que você estava fazendo, pois a saia cobriria os pés e as taças. Também poderia prender e torcer, caso você dançasse ao redor. Nakish usava calças estilo gênio quando dançava, e não usava nenhuma saia sobre elas na maioria das vezes. Não gostava do look das calças tipo harem, dos anos 60, fiz um novo traje que não cobria as taças, quando dobrava os joelhos. Usava calças bem presas no tornozelo, aberta dos lados, mas ligado quadril ao joelho, do joelho até o tornozelo, por uma espécie de efeito  "mostra-esconde". 

Na parte de cima, usava um sutiã dança, e às vezes, por cima de tudo, uma túnica que ia até os joelhos, preso em torno do quadril com um cinto de moedas. Com este conjunto, ficava mais fácil para o público ver o que eu estava fazendo. Meus pés ainda eram visíveis, meu barriga estava visível, mas coberto, e a coisa toda tinha uma ar folclórico, mas ao mesmo tempo,  brilhoso.

No começo, usava 03 taças com uma boa espessura, não muito altas, mas resistentes. Para efeito de palco mais dramático, encontrei um algumas canecas de cerveja, pesadas e com hastes. 
Estas eram as taças industriais, que ficavam lindas do palco e deixavam-me um pouco mais alta do chão. Quando comecei a adicionar mais movimentos, Muzzy (Mustapha, o nosso mestre de cerimônias e músico) fez para mim, uma grande placa portátil, suave e lisa de um lado, e áspera do outro, para que pudesse mexer as taças, sem mexer a placa. A placa era armazenada facilmente em nosso ônibus e nunca mais tive que me preocupar em qual lado da superfície deveria dançar. Empacotamos um produto chamado "finger ease", juntamente com a nossa fita adesiva e kit de costura. Ele foi projetado para os pescoços das guitarras, e mantinha o teclado limpo. Alguns sprays disto em toda a minha placa de vidro e ela ficava lisa. Muzzy estava continuamente tentando colar coisas nas laterais das taças para que pudessem refletir as luzes, mas nada colava. 

Juntamente com o nosso número Calypso, houve reflexões sobre colocar luzes ao redor das taças, mas nada disso aconteceu, somente sonhos da estrada. Agora que penso sobre tudo isso, sei que somente fazemos qualquer coisa como esta, quando somos jovens, estúpidos e impermeáveis ao desastre.

Para o show, subia ao palco com 03 taças nas mãos, apresentando-as ao público, mantendo-as por cima da minha cabeça, fazendo alguns giros. Enquanto fazia tempo, um dos músicos trazia a minha placa com grande cerimônia e colocava na minha frente. Depois de cuidadosa (e dramaticamente) organizar as taças, levantava o pé, e subia em uma taça, e trazia o outro pé até as outras taças. Centrando-me para construir uma tensão dramática, passava por uma série de movimentos lentos, incluindo me ajoelhar até até o chão com um "Maya" e um lindo cambret com ¾ do corpo virado para o público. Como a placa era muito lisa, era capaz fazer círculos ao redor, mexendo as taças com os meus pés, e literalmente "dançar" sobre elas. Voltando-me para o público, agachava e pegava uma taça. Equilibrando-me nas duas taças restantes, levantava e segurava a taça no ar, levantando um pé. Assim me equilibrava sobre uma única taça, só por um momento, e era quando me sentia muito forte. É claro que o processo de repetição de substituir taças de sua posição original era tão angustiante quanto ficar sob uma só, mas a esta altura, sabia que a dança estava quase no fim, e a sensação de alívio que sentia me ajudava a terminar sem contratempos. Terminava a dança com shimmies, e saía de cima das taças, pegava cada uma e terminava com um giro. Uma variação dessa coreografia envolvia um layout com bellyrolls que requeriam mover as taças sob uma mão, com uma perna dobrada e uma perna estendida. Este layout fazia muita uma pressão sobre as taças, e também nos meus nervos, e eu não a fazia muitas vezes. Mas era bastante impressionante! 

Depois de alguns anos, passei a Dança com Taças para outra dançarina da trupe. Ela acrescentou novos elementos acrobáticos e de teatro para a peça. Sua estrutura leve era adequada para a delicadeza necessária nesta dança. Apesar da natureza robusta das taças pesadas ​​que usávamos, elas ainda eram de vidro e um tanto frágeis. Há um real de perigo na Dança com Taças. Quando decidi usar taças reforçadas, em vez de simples copos de água, comprei algumas belas taças mexicanas, sopradas. 

Durante uma apresentação, uma delas quebrou quando pisei em cima. Pulei antes que machucasse meu pé, mas sem antes de levar um grande susto. Depois disso, decidimos ir mais para a questão estrutural das taças e não a beleza, na hora da compra.


No primeiro ano do Bou-Saada, nosso grand-finale era a Dança com Taças. Quando passei-as adiante, não foi porque não gostasse delas, mas elas limitavam e exigiam muito. Não sendo particularmente atlética, tive dificuldade com os processos complexos envolvidos em fazer esta dança parecer interessante. 

As taças exigem paciência. No momento em que você se sente confortável com elas, você tem uma apreciação real do que está intrínseco no Taksim*
É comum para os novos dançarinos se apressarem na passagens do Taksim*, tentando passar por ele o mais rápido possível, porque não têm idéia do que a música está fazendo naquele momento. 

Nossa resposta para a improvisação durante a música do Oriente Médio, ilustra a profundidade de nossa compreensão da rica textura e dos nuances desta cultura. 

De volta a idade das trevas, Taksim* eram longas, arrastadas e às vezes cansativas, especialmente para dançarinos inexperientes, com pouco repertório, e, sem dúvida, para o público também. Você tem que cavar muito fundo para se manter conectado com o público e a banda. Às vezes me sentia como um elástico esticado ao limite, mas isto me ensinou a ouvir. Não ser capaz de mover seus pés, e ainda ter que dançar a música é uma grande disciplina. As Taças certamente me ajudaram a encontrar o meu centro, me abrandou e me fez pensar sobre a música, mas isto levou muitos anos.


* TaksimJá o taksim é caracterizado pelo som de um único instrumento como o violino, acordeon, flauta, alaúde, etc. Ocorre a improvisação no momento da música, ou seja, tudo ocorre instantaneamente, sem ensaios. Pode haver percussão para acompanhar o improviso e a dança exige movimentos mais lentos e tímidos da bailarina. Podem existir passagens de taksim em música clássica, ou apenas o próprio taksim como uma música inteira.



Texto original :

** Tradução livre - Carine Würch **

14 de outubro de 2014

184 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

184 por Carine Würch - SEMANA 20

A Dança com Taças de Vidro foi a minha primeira especialidade solo, em 1973. Pelo que pude perceber da história da dança, na região de West Coast, as Taças de Vidro, foram vistas pela primeira vez na área da baía de São Francisco com a dançarina egípcia Fatma Akef. Na verdade, vi dançarinas do Bal Anat fazerem este tipo de coreografia. Acredito que há uma foto antiga de Jamila dançando sob as Taças, embora meus fatos possam ser apenas fantasia. 

Fatma ficava sob as taças viradas para cima, equilibrando um pote e conversando com seu papagaio, que ficava empoleirado em seu ombro. Ela apenas ficava lá, fazia algums shimmies e depois descia e continuava dançando. As Taças são um pouco de bobagem circo, uma ilusão para público, mas, entretenimento é entretenimento. Não têm outro propósito senão o de permitir que uma dançarina exponha seu talento em cima das taças viradas para cima durante a execução de alguns belos movimentos. Também não há uma história grande e misteriosa por trás desta dança. Comparo-os aos dançarinos  do Greek Taverna que vi que pegarem mesas com seus dentes, fascinante, mas ... bem, talvez não é tão estranho.

Depois de deixar as aulas de Jamila, no final de 1973, comecei a ter aulas com Nakish, uma das dançarinas de espada de Jamila no Renaissance Faire, também conhecida como "A Dama dos Olhos." Para quem não a conhece, deixe-me dizer-lhe que esta mulher era algo especial e um artista incrível! Nakish garantiu uma vaga em um show no Brooks Hall para um Festival de dança e música internacional. Sua classe avançada, da qual era membro, tornou-se sua "troupe". Cada uma de nós tinha uma especialidade de dança, e Nakish fazia uma longa coreografia solo Oriental. Ofereci-me para ser a dançarina das taças de vidro, tendo pouca ideia do que isso implicava. Pensei que seria fácil, porque não teria que mexer muito meus pés, mas nunca ter dançado em público, me deixava muito nervosa. Descobri rapidamente que havia muito mais na dança com taças do que 03 copos invertidos, e movimentos de braços. Como só tinha visto dança com taças uma vez antes, isto era um mistério para mim, mas consegui uma fazer uma coreografia razoável. Fiz a minha primeira apresentação pública na Brooks Hall com Vince Delgado como nosso baterista,  e também um músico persa que tocava o acordeão.

O acordeonista nunca tinha tocado música do Oriente Médio, mas sabia "Lady of Spain", que encaixou na dança de Nakish. Ele e Vince tocaram algumas melodias e Nakish fez um set list. Nós seguimos um grupo de Flamenco, cujo vocalista, um senhor mais velho, com cara de maçã seca, sentou-se a porta do nosso camarim, apoiado-se em um bengala de madeira. 

Enquanto saiamos, ele bateu com a bengala no chão, olhando de soslaio para nós, estalando e murmurando em espanhol.

A primeira vez que sai do camarim e vi ele sentado ali olhando para mim, fiquei apavorada, mas assim que descobri que ele estava brincando, relaxei e consegui brincar também. Desde os meus primeiros momentos de bastidores, no camarim, estava focada em dançar e ser "uma dançarina." Foi algo inebriante. 
No entanto, ainda estava petrificada. Os mesmos sentimentos de inadequação, náuseas e falta de controle, misto de excitação e antecipação, me seguiram durante toda a minha carreira. Apesar disso, ou talvez por causa do meu medo do palco inicial, consegui apresentar uma versão aceitável de uma dança com taças para um lento chiftetelli no acordeão. Senti como se estivesse no palco por um tempo interminável e nem fiz muitos movimentos, fiz muitos bellyrolls , movimentos de braço e oitos. Terminei a dança com alguns shimmies, um aceno para os músicos e sai aliviada. Quando formei Bou-Saada e fazia este solo, minha coreografia já havia tomado novas dimensões.

Texto original :
** Tradução livre - Carine Würch **

13 de outubro de 2014

185 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

185 por Carine Würch - SEMANA 20


Yasmela - Shelley Muzzy, começou a dançar em 1972 como aluna de Jamila Salimpour em São Francisco. 

Dançou também como membro da companhia de dança de Nakish, antes de deixar a área de São Francisco para viver em Bellingham, Washington. 

Em 1974 junto com a colega de turma Jamila, a dançarina Cecelia Comartin (Cassima), fundou a Bou-Saada Dance Troupe usando como modelo o Bal Anat de Jamila Salimpour. Bou Saada, composto por 5 bailarinos, 3 músicos, e um roadie, viajou a Costa Oeste, Canadá, Wyoming, Montana e Idaho, em um ônibus de turismo com um sistema de som, palco e iluminação profissional por cerca de 10 anos. Ao mesmo tempo, Yasmela continuou seus estudos de dança com Rhea, e Aisha Ali. Ela começou um estudo intensivo da cultura do Oriente Médio e Norte da África na Western Washington University / Fairhaven College e recebeu sua graduação em História e Pesquisa com ênfase na dança e música dessas áreas em 1981. 


Enquanto no Bou-Saada Dance Troupe, Yasmela desenvolveu suas habilidades no ensino, coreografia e instrumentação. Como o esforço coletivo, os membros Bou-Saada desenvolveram habilidades em todos os aspectos de desempenho, incluindo as habilidades técnicas necessárias para a produção de um espetáculo profissional.

Com a instrução especializada de professores, tais como Aisha Ali, Mardi Rollow (AMAN Folk Ensemble), Nakish, Rhea e Jamila, Yasmela desenvolveu um estilo único de dança com concentração em danças tradicionais étnicas do norte da África, incluindo a Tunísia e Marrocos, e da dança da Ásia Central e seus estilos musicais. 












Yasmela
foi escritora para a original Revista Habibi e colaboradora para a Arabesque Dance Magazine através das décadas de 1970 e 80. Aposentou-se das apresentações em 1990, mas continuou a ensinar, e finalmente se aposentou do ensino regular em 2010. Yasmela continua a escrever sobre dança e atua como mentora e treinadora de atores ativos. De seu estúdio no noroeste, ela desenha jóias a partir de componentes antigos e étnicos e cria roupas e figurinos inspirados no estilo asiático,a partir de seus próprios padrões, seguindo os preceitos do Slow Clothes Movement. Hoje em dia está trabalhando em um livro sobre a Bou-Saada Dance Troupe, um romance sobre o Verão do Amor, e contribui regularmente peças para pequenas publicações de imprensa. 


FONTES:
** Tradução livre: Carine Würch **