2 de abril de 2015

PILARES ENTREVISTA - SISTERSTUDIO - PARTE 2

12 por Maria Badulaques - SEMANA 44

Respira fundo, vamos seguir.


Tinha (tenho) muitas perguntas sobre esse processo interminável sobre a dança que vem das profundezas do seu eu, contudo na caminhada algumas convicções vão se estabelecendo. Uma delas é o fato de que dançar é um processo, tal qual o desfolhamento de uma cebola, as camadas vão caindo e algo surge, emerge, brota. Este processo demanda de mecanismos para florescer, chamo de técnica. Não vejo como alguém possa evoluir sem uma boa dose de técnica, é como construir uma casa em terreno instável, a qualquer momento tudo pode cair. Pior que não ter técnica é ter uma técnica equivocada, bem desaprender é ainda mais tormentoso que aprender, por isso tão importante investir em pessoas qualificadas para o ensino. 


Escuto, já vi várias vezes, a venda da aula da essência, aquilo que vem da sua alma...e sempre me questiono, ué e alguém toma banho e sai de casa deixando seus bens personalíssimos na cama? No chuveiro? Essência não é algo que nasce, acorda, dorme e morre conosco?

Com base nesta inquietação seguiremos o papo com as Sisters, vamos lá.

Pilares - Como você fundamenta sua dança: técnica ou essência?

"Os dois. Prezo muito pela acuidade técnica dos passos e sou muito insistente nisso com  as minhas alunas, mas também tento criar um espaço acolhedor e de aceitação do outro em sala de aula e nos ensaios. É necessário aprender a respeitar os limites e possibilidades de cada um dentro de um grupo à cada situação que se apresenta." (Aline)  

"Técnica E essência." (Lilian)

"Na técnica para chegar à essência. A arte não existe sem a técnica. Isso pra mim é balela de quem tem preguiça de estudar e treinar. Tem que ter técnica sim, além de conhecer a história, tem que ter entendimento do todo. Senão não é profissional. Agora dançar pra família, pro cachorro, pode botar todo seu coração pra fora sem um pingo de técnica. Profissional, não." (Mariana)

"Eu fundamento minha dança em respeito, antes de tudo. Estou sempre em busca de aprimorar a técnica. Minha essência é algo que está lá, e vai aparecer em minha dança independente de qualquer coisa." (Natália)

Comentário:  Acredito piamente que a técnica deve estar inserida no útero da sua dança, e isto será um processo longo e as vezes desesperador (... nós e nossas cobranças, autocrítica...), mas há que se perseverar e um dia a coisa se torna orgânica. Esse lance de jogar ao fogo da inquisição a técnica porque se dança com a essência é coisa de perfumista. Isadora Duncan deixou muitos ensinamentos, inovou e mesmo ela não hiatou com a técnica, o que fez foi procurar uma forma de externar sua dança,  e sim, tem técnica!


Pilares  -  Quantos anos (meses, dias...) de estudo você trilhou antes de sua diplomação?
"Não sei dizer ao certo, mas acredito que uns três anos. Desde o momento que senti o peso da responsabilidade sobre o quê  eu estava ensinando e o  tal “chamado de casa”." (Aline)

"Em média eu estudei 2 anos antes de fazer o curso, desses uma boa parte já sabendo que eu iria me formar e como o Nomadic Tribal estava recém formado ensaiávamos e estudávamos juntas também além de aulas, vídeos, debates com as colegas da época de SP. Eu fui bem preparada, mas mesmo assim penei bastante porque era muita informação, ou eu fazia os passos ou sentava e anotava, então precisa se preparar mesmo para encarar o curso." (Lilian)

"No total de dança, 6 anos, e especificamente no ATS cerca de 2 anos." (Mariana)

"Eu comecei a estudar ATS em 2011. Tirei o certificado em 2013. Porém nunca parei de estudar, e até hoje faço aulas de todos os níveis. Acho imprescindível. A certificação, na minha opinião, é só o começo da jornada." (Natália)


Pilares - Há eventos suficientes no Brasil e em São Paulo divulgando o estilo?
"Acho que podem haver mais, mas estamos só começando." (Aline)

"Acredito que sim, mas podemos ter eventos maiores que divulguem de uma forma melhor o estilo e o que ele proporciona para as pessoas." (Lilian)

"Acho que não. O problema dos eventos é que são muito direcionados para quem já dança, ou para o mercado da dança do ventre. Falta ainda, e muito, a divulgação do tribal para o grande público. Falta espetáculos, falta tudo!" (Mariana)

"Na minha opinião, ainda não." (Natália)




Pilares - As trupes se reúnem com frequência para interagir?
"Nacionalmente temos o Campo das Tribos, que promove esse encontro, mas regionalmente não tenho como opinar.  Acho legal poder ter encontros regionais dos grupos, é uma experiência muito enriquecedora para todas as envolvidas." (Aline)

"Em SP não muito entre grupos formados, mas alunos com certeza! Não sei nos outros estados..." (Lilian)

"Muito pouco. Essa reunião acaba só acontecendo mesmo em eventos específicos." (Mariana)

"Não sei. Eu não tenho mais uma trupe. :) Mas se você está perguntando se as diferentes trupes interagem entre si, a resposta é não. Não vejo nem um esforço nesse sentido. Isso é bem diferente do que acontece lá nos EUA, e eu espero que após a vinda da Carolena e da Megha isso mude." (Natália)


Pilares - O ATS é pouco utilizado nas Fusões Tribais, o que pensa sobre isso?
"Mesmo sem saber os praticantes da  fusão tribal se alimentam do ATS o tempo todo. A informação chega um pouco distorcida pelas estilizações, mas chega. O que falta é reconhecer de onde vem o quê." (Aline)

"Na verdade mesmo, eu prefiro fusões mais ricas em outros sentidos, para mim como espectadora, não me agrada ver um ATS em formato de solo ou em formato de coreografia, com o argumento de que precisa ter ATS na fusão. Acho que precisa saber como interpretar isso. De fato, só a atitude, braços e postura do tribal já remetem bastante a sua raiz, usar elementos do ATS fusionados fica muito mais legal, do que usar combos inteiros e fora isso para se fazer uma fusão precisa ter bagagem histórica, pessoal ou cultural além do estudo do ATS, porque se não se fusiona ATS com o quê, não é?" (Lilian)

"Não acho que seja pouco utilizado, acredito apenas que seja usado de forma superficial, sem fundamentos. Toda bailarina de tribal, tendo ou não estudado ATS, já fez uma ondulação de braço em plano alto, e isso é ATS. Só que muitas vezes é feita sem a técnica do ATS. E não estou falando de conhecer a técnica para desconstruí-la, o que considero muito válido. Estou falando de nem se dar ao trabalho de conhecer a técnica original. Na minha opinião, o estilo só tem a perder com isso, e acaba caminhando para a descaracterização." (Mariana)

"Não concordo. Acho que em todo tribal fusion o ATS está lá. As pessoas podem não acrescentar o passo puro, mas a postura, os braços, a atitude está lá. Não existe tribal fusion sem influência do American Tribal Style. Essa coisa de separar o ATS do tribal fusion como coisas totalmente diferentes foi algo inventado e difundido por algumas pessoas só aqui no Brasil." (Natália)


Finalizo essa segunda parte da entrevista com o comentário de Rachel Brice no curso que fiz em 2014, ela dizia... que o ATS era a mãe do Tribal Fusion. Há como negar isso?! O que precisamos realmente é estudar os fundamentos teóricos e prático, informação é tudo!

Xeros no pulsante, amanhã vamos abordar as dicas de estudo para certificação.
Olha aí o sonho de várias dançarinas!!!


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