22 de abril de 2015

PILARES ENTREVISTA - LUKAS OLIVER - PARTE II

Dando sequência a nossa conversa.

Parte II da Entrevista elaborada por Maria Badulaques, com Lukas Oliver:

Técnica sempre foi uma "preocupação". 
Como conciliar com a essência? Ou não se concilia? Acredito que a técnica é a língua utilizada pela alma para expressar através do corpo. Sempre tentamos olhar técnica e essência como duas coisas distintas difícil de se conectar. 

O que é incrível em minha trajetória na dança é que somente consegui entender e efetuar a técnica quando minha essência estava presente em cada movimento. Entendi que não são distintas, mas parte de um todo. 

O caminho que utilizo para sentir a técnica e a essência presente, é simples. Procuro realizar o movimento realmente sentindo como ele trabalha com meu corpo, aguçando meus sentidos. 

Quando realizo um movimento de braço, procuro estar presente realmente dentro do meu braço, sentindo ele cortar o ar, os pelos tocando minha pele, os encaixes das articulações, as pulseiras que deslizam... Conecto isso tudo ao sentimento e sensação que quero passar e que a música me passa daí nasce a característica técnica da movimentação ou muitas vezes nasce outro movimento. Técnica e essência é um assunto complexo que me envolve muito, ficaria horas tentando escrever, mas acredito que é algo que não se descreve, é algo que se vivencia. 

"Creio que para a dança, não há diferenças, não há melhores nem piores, não há bonito ou feio, não há a mais importante ou o menos importante, não há a pioneira e muito menos regras ou mandamentos, formas físicas, estilos de roupa, movimentos determinados etc", com base em sua afirmação, o que acha do ATS? O ATS é um estilo incrível que um dos seus principais conceitos, pelo o que conheço, é a união. Assim como o foco da humanidade; viver, divertir, dançar em harmonia respeitando uns aos outros, unidos. Acho isso tudo muito lindo e vejo isso no ATS e vejo em outras modalidades também. Quando começo assistir uma apresentação quero mergulhar no universo de sensações de quem está se apresentando, quero sentir o que ela sente, e entender a mensagem que quer me passar. É nesta hora que procuro entrar em processo meditativo com tal performance, não há diferenças, nem estilo, não há movimentos determinados, não há o corpo, não há regras nem mandamentos nem nada que impossibilite a liberdade expressiva. Há simplesmente a DANÇA, a ARTE, as sensações, os sorrisos, a beleza, a confraternização, há um vórtex de boas vibrações e sentimentos, dança pura. Deixa de existir, rótulos ou características e passa a existir tudo ao mesmo tempo e o nada. Deixa de existir o artista e aparece a arte. 
Gosto muito do ATS!

Um dos principais motivos é o que costumo dizer: Você pode assistir 3, 6, 9 apresentações de ATS, mais nenhuma será como a outra. Por mais que os movimentos sejam pré determinados, ou figurino tenha um padrão, regras de movimentações e uma  líder, você nunca sentirá o mesmo vórtex vibracional, ou a mesma dança. 

Você menciona que busca a "dança pura", nesta busca a técnica continuará sendo um dos ingredientes do bolo? Sem sombras de dúvidas. A técnica faz parte integral e é própria dança pura. Um exemplo de como entendo isso: 

Uma pessoa que nunca fez aula de dança mas sabe dançar (Todos no universo sabem dançar, rs), vai em uma balada, faz alguns passinhos, se você chegar nela e perguntar; como você faz isso, me ensina? Você pode não ter uma explicação baseada nos conhecimentos anatômicos, nos conceitos de Laban, expressividade da dança indiana, mas uma coisa é certa, a pessoa irá te explicar tecnicamente como executar o que ela esta fazendo, claro que dentro das possibilidades do conhecimento dela, mas isso não deixa de ser técnica. 

Para você, o que tem atraído tantas dançarinas de bellydance para o tribal? Em foco a liberdade de expressão. Mas muitas vezes  as simples possibilidades de unir os seus conhecimentos em bellydance e mesclar com outros estilos. 

Ou mais simples ainda, o gosto pessoal pela dança. 

Você já se encontrou enquanto dançarino? Percebe ter encontrado sua identidade na dança? Qual é? Não encontrei e acredito nunca encontrar uma identidade na dança. Acredito que como ser humano estou em constante mudança, recebendo diversas influências e conhecendo um mundo de infinitas possibilidades, não ousarei limitar tais mudanças para me adequar em uma identidade. 

O que encontrei é um estilo o qual tenho muita afinidade que é o Tribal Fusion e meu objetivo é dança-lo como é e mesclar outras vivências em minhas performances. 

Me sinto muito feliz e realizado, trabalhando, estudando e me dando a liberdade de reler o estilo para minhas performances. Com certeza, dedicarei a ele um bom tempo de minha vida. 


Você diz que está vivendo uma fase de transmutação, o que ficará de fora do seu novo momento? Nada ficará de fora. Não há como negar o que passou, o que está passando, ou o que passará. Eu apenas me permitirei a olhar outras paisagens. Não há como deixar de viver no mundo em que vivemos, mas acredito que podemos olhar as coisas boas ou viver as coisas ruins. Tudo é uma questão de escolha e eu escolhi ter, fazer e ser o que me faz bem, na dança e na vida. 

Em sala de aula, o que mudará em sua filosofia? Minhas aulas sempre estão em constante mudança, sempre levo técnicas novas, filosofias novas, pesquisas, vou procurando outros caminhos para explicar um movimento etc. 

O que sempre esteve como filosofia desde o princípio é a liberdade. Eu apresento, o aluno escolhe o que gosta e lhe faz bem e dança livremente. 

Acredita na possibilidade de uma formação sólida, em qualquer modalidade de arte, sem uma fundamentação concreta da técnica? E neste caso, como encontrar a liberdade de expressar, enquanto a cobrança da técnica está na mesa? Como acredito: A técnica é língua utilizada pela alma para expressar-se através de um corpo.

Se você não estuda a gramática, o vocabulário, não pratica conversação, não treina os músculos da face para falar inglês, você nunca falará inglês. Mas é livre para viajar a um país e arriscar a falar.


Se não entende o corpo, não trabalha flexibilidade, equilíbrio, força , não conhece historicamente o que pratica ou como atua o seu corpo e sua mente em alguma movimentação, você não saberá a técnica, não falará a língua da dança, da alma. Mas isso não te impossibilitará de subir em um palco e arriscar a fazer o que você sabe, a conectar seu corpo e sua alma. 

Acredito que sem compreender a técnica não há formação, mas sem entender a alma também não há formação. 

Você pode escolher dançar com o que você sabe e ser feliz expressando livremente, ou você pode escolher aprofundar seus conhecimentos técnicos, dançar com o que você sabe e ser feliz expressando livremente. 

Para ter uma "formação sólida", acredito eu, buscarmos um equilíbrio entre corpo e alma. Para ensinar, por exemplo,  procuro ter o maior número de conhecimento técnico, filosófico e histórico a fim de estruturar minha didática de ensino mas também procuro entender qual é o estado de espírito do aluno e como posso ajuda-lo a conectar técnica, corpo e mente, com a finalidade dele expressar-se livremente compreendendo a técnica e tendo repertório. 

Resumidamente,para mim, técnica e liberdade de expressão andam juntas e formam um indivíduo/profissional, sólido e equilibrado.  

** todas fotos foram escolhidas por Lukas Oliver **

                  http://www.lukasoliver.com/ 

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