3 de novembro de 2014

164 - ASMAHAN

164 por Carine Würch - SEMANA 23

Escrito por Asmahan of London para o Gilded Serpent


Lynette entrou em contato comigo com a idéia de uma turnê filmada pelos famosos clubes noturnos de árabes de Londres. Iriamos até às instalações e filmaríamos onde os clubes existiam anteriormente. Eu descreveria os clubes como eram nos dias de glória. Fui uma dançarina da Califórnia, que veio a Londres para dançar nas discotecas árabes. Tive o privilégio de fazer parte desse momento maravilhoso. O que se segue é o meu artigo sobre estes clubes fabulosos, as dançarinas, músicos e cantores que fizeram esta época sensacional.

São Francisco - 1972 
Asmahan dances at Sultan's Palace
Asmahan at Sultan’s Palace, performing on a stage that was a
giant aquarium, with fish swimming beneath her feet.
Dancing on water! Ali on dumbek, and Joseph Alexander on def
Foi minha grande sorte experimentar a Dança Oriental, pela primeira vez, no Renaissance Pleasure Faire em Marin County, perto de São Francisco. O grupo de dança Bal Anat estava se apresentando com música ao vivo. O som era exótico e encantador, e estava totalmente cativada. Os instrumentos tocados eram santour, derbak, def, dehola, mismar, miswige, nai, snujs, e sistros. Era pontuado por zagareets (ululação) - que tinha ouvido falar, no filme, Lawrence da Arábia. As bailarinas dançavam em formatos coreografados e improvisados. A interação entre os dançarinos e os músicos era apaixonante, os tambores bateram em meu coração. A dançarina do final foi Galya, sua beleza e dança magnífica deixou uma impressão para vida toda. Rhea fazia uma dança com espada que gostaria de imitar. Esse show me inspirou muito, quis ser uma dançarina e dançar com música ao vivo.

Jamila Salimpour apresentava um show que ela descreveu como "pré napoleônica" (antes de influência ocidental no Oriente Médio). Ela pesquisou livros de história, usando as fotos dos dançarinos orientalistas para saber mais sobre seus trajes. Essas idéias eram uma mistura das culturas dos Beduínos, Ghawazee e Ouled Nail. Sem lantejoulas, franja bordadas, lamê, ou brilhos eram permitidos, os corpos dos bailarinos eram cobertos com Assuit, tecidos da rota da seda, jóias étnicas, bordados e moedas do Oriente Médio. Ghawazee significa "invasores do coração" em árabe.

O primeiro show em um clube árabe que eu vi foi no Casbah na Broadway, em São Francisco. O proprietário era Fadil Shahin, um cantor talentoso que tocava oud. Ele estava acompanhado por Jalal Takesh, que tocava Kanoon, e Salah Takesh que tocava derbak. Na banda também havia dois músicos que tocavam violino e nai. Rhea, apresentou seu show de dança com espada, e outros dois dançarinos fizeram o formato tradicional show, com véu, Taksim, canção, floorwork, balady e um solo de derbak.

Depois de ter aulas com Jamila Salimpour, comecei a dançar profissionalmente no Casbah, começando uma vida inteira de aprendizagem sobre a música e as danças do Oriente Médio. Seu ensino se caracterizava pelo estilo das dançarinas dos filmes clássicos egípcios: Samia Gamal, Naima Akef, e Taheya Karioka. Fadil se apresentava com músicas de Farid Al Atrash, Om Kalthoum e Abdul Halim Hafez. Eu ouvia "Abdul Halim Hafez ao vivo do Royal Albert Hall, em Londres", e ficava impressionada com a beleza da música de sua orquestra e a interação com o público.


Houve uma dançarina árabe que se apresentava no Casbah, chamada Princesa Samia Nasser. Ela era do Iraque e tinha o cabelo vermelho brilhante e pele pálida e branca. Usava trajes com bordados glamourosas e foi muito querida comigo. Ela me deu conselhos de beleza, me dizendo para não usar trajes de moedas. "Você não está realçando sua beleza" era seu constante comentário para mim.

Nosso melhor cliente naquela época, era o filho do rei da Arábia Saudita. Ele me pagou meu primeiro drinque, e costumava me dar notas de cem dólares como gorjetas, as quais economizei para o meu futuro.

Um violinista libanês, Aboud Abdel Al, que havia se apresentado em Londres e estava em uma turnê, chegou a San Francisco com alguns músicos de sua orquestra. Ele produziu um álbum de música de dança do ventre com Fadil Shahin. Os músicos foram Bashir Al Adbel, Mohammad El Berjway, George Basil, e Chazi Darwish. A música de entrada nesta gravação foi uma peça chamada "Siqa". Eu não sabia como dançar essa música, como era no estilo egípcio moderno, do qual não tinha conhecimento. Foi baseado em um passo chamado arabesque, a partir da influência do balé do Bolshoi no Cairo. Estes foram os tempos antes de vídeos - e nós nunca tínhamos visto os bailarinos do Cairo ou Beirute. Estudantes da Arábia Saudita da Universidade de Stanford costumava vir e dizer-nos coisas sobre dançarinas egípcias. Diziam, por exemplo, que elas não faziam floorwork e todos usavam trajes bordados. Aida, uma dançarina no Casbah, convidou vários dançarinos para a casa dela, para assistirmos um filme que tinha recebido de uma dançarina egípcia chamada Samiha. Ela vestia um traje alaranjado bordados, muito chamativo, com uma saia de lantejoulas laranja, mostrava muito suas pernas, e dançava um estilo que nunca tinha visto, a música que nunca tinha ouvido falar. Estávamos espantados e intrigamos sobre o mundo da dança "lá fora".

Aboud Abdel Al aconselhou-me a ir a Londres para dançar em Omar Khayyam. Meu coração estava pulando! Sempre quis levar uma vida de aventuras, e este parecia ser o início de uma grande aventura. Seguria meus sonhos e dançaria para os árabes em suas boates, restaurantes, hotéis, cabarés, e casamentos. Meu objetivo seria dançar a autêntica música árabe no contexto da cultura árabe. Era meu plano para dançar em Londres, Paris, Viena, Beirute, Dubai, Bahrein e Cairo.








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